Começa de maneira ousada, Fleming gasta quase metade de Moscou Contra 007 delineando o perfil de vários vilões. Um delírio pulp onde se tem de tudo: serial killer, pervertido, torturador, gênio enxadrista, agente duplo, etc. Bond aparece lá pelo capítulo 11 e toma conta da história com o carisma habitual. Temos ainda uma bond girl das melhores, Tatiana Romanova, e um memorável parceiro de aventuras, Darko Kerim.
Escrito em 1957, faria as patrulhas ideológicas da atualidade terem um infarto: machismo galopante e comentários nada elogiosos a outros povos fazem parte do itinerário Fleming. O inglês não tinha papas na língua e nem apreço por russos. Perto dele, o Conrad de Coração das Trevas fica parecendo até bem simpático.
Fleming costuma ser um cuidadoso escritor, respeitando a coerência mesmo no campo da pulp fiction. Acontece que aqui deu uma forçadinha de barra que, se não chega a atrapalhar a diversão, impede uma possível cotação 4 estrelas: jamais um malandro macaco velho, como Bond, cairia na armadilha imposta pela trama, jamais embarcaria naquele trem com tanta coisa em jogo.
É sempre um prazer ler Ian Fleming. Em 2021 será a vez de Dr No, 2022, Goldfinger, e assim por diante. 1 por ano pra durar mais.
3,5 estrelas